segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Zé Menezes e o Primeiro Frevo-Canção da Rozenblit

NELSON FERREIRA ACEITOU SEM ENTUSIASMO, LEMBRA MAESTRO.

 / FOto: Priscilla Buhr/JC Imagem
Foto: Priscilla Buhr/JC Imagem


Fui eu quem apresentei Nelson Ferreira e José Rozenblit. Eles se conheciam de nome, mas não pessoalmente”, quem diz isto é o maestro José Menezes, coautor, com Aldemar Paiva, do frevo-canção Boneca, gravado por Claudionor Germano no disco de 78 rotações inaugural do selo Mocambo, da Fábrica de Discos Rozenblit, há 60 anos. Menezes, que completa 90 anos em abril, já vinha de uma carreira bem-sucedida na música pernambucana, sobretudo no frevo.

“A Rozenblit foi de suma importância para o frevo, para intérpretes e autores. Eu era um dos autores daqui que tinha músicas gravadas no Rio – Eu, Zumba, Nelson, Capiba e Levino. Mas na Rozenblit era diferente, tinha maior divulgação. Por volta de novembro as rádios começavam a tocar as músicas; no Carnaval todo mundo cantava junto, nos bailes de clubes”, comenta Menezes.

Ele era frequentador da Lojas do Bom Gosto, na Rua da Aurora, um ponto badalado do Recife nos anos 1950. O frevo-canção Boneca foi composto com o alagoano Aldemar Paiva, compositor de alguns frevos clássicos, como Pernambuco você é meu e Evocação nº 6 (ambas com Nelson Ferreira), para tentar emplacar mais uma gravação dos dois numa gravadora “sulista”. Como acontecia desde os anos 1930, os representantes da RCA, Odeon, Sinter e Continental escolhiam, com os lojistas, os frevos que seriam interpretados por orquestras e cantores do Sudeste.


*Zaccarias, maestro famoso pela sua orquestra na RCA Victor.

Uma produção específica para o Carnaval pernambucano. Menezes por exemplo teve o seu frevo de rua Freio a óleo gravado pela Orquestra do maestro Zaccarias, em 1950. “Boneca não ficou entre os frevos escolhidos para serem gravados. Acharam muito romântica para o Carnaval. Rozenblit gostava muito desta música e me disse que ia gravar por conta dele. Pediu que eu sugerisse a música para o outro lado do disco. Sugeri Nelson Ferreira. Disse que ia procurar Nelson e saber se ele queria ceder uma música para o disco”.

Zé Menezes conta que Nelson Ferreira não lhe pareceu muito interessado: “Ele não botou muita fé, não acreditava que fosse dar certo. E acabou sendo um disco histórico”. Mas Nelson Ferreira, convencido por Zé Menezes, que tocava em sua orquestra, cedeu a José Rozenblit um frevo de rua que se tornaria um clássico, Come e dorme, o conhecidíssimo hino não oficial do Náutico. Assim como aconteceu com Claudionor Germano, dali em diante, embora tenha lançado discos por diversas gravadoras do Sudeste, a carreira de Zé Menezes estaria ligada a da Rozenblit, ou a Mocambo, como a empresa era popularmente conhecida.

E ainda mais ligada ficou a de Nelson Ferreira, que se tornou seu diretor musical: “Eu fui assistente dele. Aliás ele foi meu pai artístico, nasci artisticamente tocando com ele na Rádio Clube, em 1949”, conta Zé Menezes”, mestre no saxofone e clarinete.

Na gravadora da Estrada dos Remédio, ele trabalhou com artistas locais, nacionais e até internacionais que vinham gravar nos estúdios da Rozenblit. “Gravei com Bienvenido Granda, o cantor cubano que foi muito popular nos anos 50. Fiz duas músicas com ele, uma foi Boemia (versão em espanhol de A volta do boêmio, de Adelino Moreira). O pessoal vinha gravar aqui porque havia mão de obra barata. Os músicos recebiam bem menos”, diz Menezes, que passou a ter seus frevos-canção gravados pela Rozenblit.

A segunda música (em parceria com Edinho), foi o frevo-canção Pataco taco, interpretada pelo Trio Guarani. Daí em diante, sozinho ou com parceiros, como Manoel Gilberto, emplacou vários sucessos no Carnaval e montou sua própria orquestra a partir de 1960. “Foram 45 anos com a orquestra, que acabou em 2006. Não tinha mais sentido. Neste modelo de Carnaval não tem espaço para o frevo-canção, que é uma música para o povo cantar junto. Nos carnavais de clubes, muitas e muitas vezes a orquestra tocava e o folião dançava e cantava. Agora com essa música alienígena que colocam no Carnaval, não tem vez para frevo-canção.”

Zé Menezes fala com a autoridade de um dos compositores que mais assinam clássicos do frevo-canção. Não que tenha parado de compor. No computador ele tem um acervo inédito arquivado. Não há mais Rozenblit para lançar o sucesso do próximo Carnaval. “Eu mesmo me encarreguei de reunir minhas composições mais conhecidas e banquei um CD com 20 faixas, para distribuir com os amigos”, diz.

José Menezes adquiriu, também para distribuir com amigos, dezenas de cópias de uma reedição do álbum O frevo vivo de Levino, gravado com sua orquestra, lançado pela Rozenblit. Assim como praticamente toda o catalogo com selo da Mocambo, os discos lançados pelo maestro estão há anos fora de catálogo.

Zeloso de sua obra, ele bancou também um songbook, com suas principais composições, igualmente gratuito. “Eu queria relançar minhas músicas, com um songbook, mas os projetos que foram inscritos não foram aprovados nas leis de incentivos daqui”, conta Menezes, sem se queixar. Perto de completar nove décadas de vida (estão previstas muitas homenagens até lá), ele é antes de tudo uma pessoa de bem com a vida.

*Fonte: http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/cultura/noticia/2013/01/20/ze-menezes-e-o-primeiro-frevo-cancao-da-rozenblit-70619.php

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Fábrica de Discos Rozenblit - 60 Anos do Selo Mocambo




           No dia 18 de dezembro de 1954, os jornais pernambucanos estampavam, orgulhosamente, em suas páginas, a inauguração de uma empresa que seria de vital importância para a cultura local: a Fábrica de Discos Rozenblit: “Está montada na Estrada dos Remédios, ocupando ali uma das maiores áreas, apresenta-se modernamente equipada, com as maquinárias necessárias para uma indústria dessa ordem. Devendo-se considerar que a totalidade do seu maquinismo é o mais novo surgido nos Estados Unidos". A Rozenblit, anunciava uma produção de 400 mil discos de 78 rotações e LP com a etiqueta Mocambo.

*Fábrica de discos Rozenblit, anos 70


O primeiro disco com selo Mocambo veio surgir no carnaval de 1953, ou seja, no ano anterior ao da inauguração da fábrica. Tinha o nº 15.000, matriz nº 500, trazendo na face A o frevo-de-rua Come e dorme, de Nelson Ferreira, e na face B, o frevo-canção Boneca, com letra de Aldemar Paiva e música de José Menezes. Tendo como intérpretes o cantor Claudionor Germano, orquestra e coro sob a direção do próprio Nelson Ferreira, o primeiro disco com o novo selo veio a ser gravado nos estúdios do Rádio Club de Pernambuco, na Avenida Cruz Cabugá, em Santo Amaro, tornando-se no grande sucesso do carnaval daquele ano. “Não tinha este negócio de cada um gravar sua parte. Era todo mundo no estúdio, na mesma hora. Errou começava tudo de novo. Quem me convidou para gravar foi Nelson Ferreira. Naquele tempo eu cantava música romântica. Sei que o disco chegou aqui num dia, no outro já tocava no rádio”, relembra Claudionor Germano, cuja carreira daria uma guinada de 180 graus a partir deste disco. A vida profissional dele esteve, de uma forma ou de outra, ligada a gravadora os irmãos Rozenblit, praticamente até que esta fechou as portas, em 1983, em consequência das repetidas cheias e inundações provocadas pelo Rio Capibaribe.






































*Claudionor Germano, o estreante do selo Mocambo

No primeiro disco despontam, além de Nelson Ferreira responsável pela direção da orquestra e arranjos, os nomes de Aldemar Paiva, que vem depois alcançar sucesso com Saudade, gravado por Alcides Gerardi, e Frevo de Saudade, este parceria com o próprio Nelson Ferreira, e o de José Menezes, já famoso pelas gravações de Freio a óleo (RCA 80075-b/1950) e Baba de moça (Continental 16661-a/1953), gravados respectivamente pelas orquestras de Zacarias e de Severino Araújo. 



*Primeiro disco prensado pela Mocambo (Acervo Particular): 
Lado A:  Come e Dorme (Frêvo) - Nelson Ferreira   /   Lado B: Boneca (Frêvo-Canção) - Claudionor Germano

Claudionor Germano da Hora, estava com seis anos de carreira, quando gravou Boneca. Já passara por um trio vocal, o Ases do Ritmo, E, 1948, já estava em carreira solo, como um dos mais requisitados cantores da época. A maioria dos “rivais” não teve o mesmo sucesso. Entre outros, Almir Távora, Paulo Mendes, Guilherme Neto, J.Rocha, que gravou um dos dois primeiros LPs da Rozenblit (o outro foi da cantora Carmem Déa): “Zé Rozenblit era um idealista. A loja que ele e os irmãos tinham na rua da Aurora, era muito moderna. Tinha cabinas individuais para os fregueses ouvirem os discos. Tinha uma cabina onde as pessoas podiam gravar a voz em acetatos. Foi um incentivador da nossa cultura. A Rozenblit tirou muita gente do anonimato, criou um mercado local”, lembra Claudionor, que no mesmo ano gravou mais pela Copacabana, o frevo-canção de História de pierrô, de Genival Macedo e Hilário Marcelino. Lado B, do 78RPM, que trazia no lado A Folias da madrugada, frevo-de-rua de Toscano Filho, com a Orquestra Paraguary.

*Um dos primeiros selos da Mocambo

Os Rozenblit, família judia de origem romena, eram, antes de tudo, comerciantes. O selo Mocambo (pelo qual a gravadora ficou conhecia no Nordeste)teve o nome escolhido num concurso realizado entre os clientes da Lojas do Bom Gosto (uma na rua da Palma, 320, e outra na rua Da Aurora, 77). Capibaribe foi o segundo nome mais sugerido para o selo. Na época, “mocambo” era uma palavra muito falada em Pernambucano, onde corria uma campanha para erradicar os barracos (mocambos), grande parte localizadas nas margens do rio. A Lojas do Bom Gosto passou a manter uma página inteira no Jornal do Commercio aos domingo, inteiramente dedicada aos títulos que vendia, enfatizando os ainda reduzido catálogo da Mocambo: “E já que falamos na etiqueta Mocambo, convém lembrar  aos bons amigos  do carnaval pernambucano, que quatro frevos serão lançados antes dos dias do frevo or Irmãos Rozenblit & Cia Ltda. Os compositores estão encontrando na marca  de discos pernambucanos, cuja fábrica já entrou em construção, o maior apoio à divulgação de seus êxitos (no JC do domingo, 4 de outubro de 1953).







*Tipos de selos em 78 rpm em ordem cronológica, usados pela Rozenblit desde seu aparecimento. Note que o selo amarelo era destinado à divulgação, e não o uso comercial. (Acervo Particular).

Claudionor Germano virou o cantor preferido da Rozenblit a partir de 1957, quando lançou o frevo-canção Eu quero uma mulher (Fernando Castelão), lado B do frevo-de -rua, Praça do Diário, de Lourival Oliveira. A praxe era sempre o lado A ter um frevo-de.rua. Ainda em 1957, Claudionor Germano ocupa o lado B, com Frevo nº 3 do Recife (Antônio Maria), do disco que traz no lado A, Comendo fogo, de Levino Ferreira, com a Orquestra de Clube da Banda da Policia Militar de Pernambuco: “Em 1959, a Rozenblit quis homenagear Capiba, que completava 25 anos de sucesso como autor de frevos, e fui convidado para gravar um LP com músicas dele. Ele e Nelson Ferreira eram os inimigos cordiais. Então Nelson chegou para mim e disse: ‘Menino você vai gravar minhas músicas também’. Então naquele ano gravei dois LPs: Capiba 25 anos de frevo, e O que eu fiz e você gostou, com frevos de Nelson Ferreira. Até hoje são os discos de frevo mais vendidos em Pernambuco”, diz o cantor.



*Um dos LPs mais vendidos do Claudionor Germano, anos 60

A partir deste dois álbuns, que tiveram uma sequência no ano seguinte, com O que faltou...e você pediu, com composições de Nelson Ferreira, e Carnaval começa com C de Capiba: “Era ainda em dois canais. Errou voltava tudo. Leonardo Dantas (o jornalista e historiador) diz que matei de primeira. Muitos anos depois reouvindo os discos, eu pensei e regravar com a qualidade técnica de hoje. Leonardo, quando comentei com ele, disse que eu nem pensasse numa coisa dessas, era como refazer uma obra de arte”, diz Claudionor Germano, que guarda com o maior zelo, o primeiro e histórico bolachão da Rozenblit.

 

Sob o selo Mocambo foram surgindo em discos 78 rpm os mais importantes sucessos do nosso carnaval, como o frevo Vassourinhas, de Matias da Rocha e Joana Batista, gravado em junho de 1956 pela orquestra de Nelson Ferreira apresentando, pela primeira vez em disco, as variações em sax-alto,  compostas por Felinho (Félix Lins de Albuquerque) em 1941, por ele executadas na segunda parte, em  dezesseis compassos sem interrupção, segundo a matriz nº R.696. Ainda na mesma fábrica veio a ser prensado o disco, Frevo dos Vassourinhas nº 1, com orquestra e coro sob a direção de Clóvis Pereira,  produção autônoma com o  selo “Repertório” nº 9093, matriz R 285, gravado na sua versão cantada no auditório do Rádio Jornal do Commercio.

Mas o grande lançamento da Mocambo para o Carnaval Brasileiro aconteceu com um frevo-de-bloco Evocação em 1957, disco em 78 rpm nº 15142 B, matriz R 791. Foi a grande criação de Nelson Ferreira, a quem coube a direção da orquestra e do coral do Bloco Carnavalesco Batutas de São José. Foi o primeiro grande sucesso produzido no Recife que veio a ser cantado em todo o país, tendo vendido centenas de milhares de cópias em todo o  Brasil, graças à força do rádio e da televisão. Em qualquer festa carnavalesca a marcha tornou-se obrigatória e, mesmo nos dias atuais, é comum encontrar-se grupos de foliões  cantando animadamente em uma só voz: 

Felinto…, Pedro Salgado, 
Guilherme, Fenelon, 
Cadê teus blocos famosos ?! 
Blocos das Flores…, Andaluzas…, 
Pirilampos…, Apôis-Fum…
dos carnavais saudosos ?!..”
Na alta madrugada,
O coro entoava,
do bloco a marcha-regresso,
que era o sucesso
dos tempos ideais
do velho Raul Moraes:
“Adeus, adeus, minha gente,
que já cantamos bastante”…
E o Recife adormecia,
ficava a sonhar
ao som da triste melodia…

*Lourenço Barbosa da Silva (Capiba) (1904-1997) e Nelson Ferreira (1902-1976), Foto: Reprodução da capa do LP "Nova História da Música Popular Brasileira" os maiores compositores de frevo do Brasil

Evocação foi o grande sucesso daquele carnaval de 1957, não só no Rio de Janeiro onde a Mocambo vendia centenas de milhares de cópias, mas em todo o Brasil onde chegava a força do rádio e a televisão já se fazia presente, o que levou o seu autor, Nelson Ferreira, a  sair do Recife a fim de gravar programas especiais no Rio e São Paulo.

Não somente sucessos produzidos no Recife, mas também outros, de compositores cariocas, que vieram a ter o selo Mocambo, prensados na fábrica da Estrada dos Remédios, para depois conquistar o Carnaval Brasileiro, a exemplo de Máscara Negra, marcha-rancho de Zé Kéti e Pereira de Matos, gravada por Dalva de Oliveira para o carnaval de 1967; Ôbá, com a turma do Bafo da Onça, em 1962 (nº 15403-b); Ó Malhador, Dircinha Batista, 1963 (nº 15478 b); Samba do Saci, Bloco do Bafo da Onça, 1963 (nº 15489 b); Último a saber, Dircinha Batista, 1963 (nº 15482 a); Cabeleira do Zezé, Jorge Goulart, 1964 (nº 15544 b); A índia vai ter neném, Dircinha Batista, 1964 (nº 15543).

 Também em 1959 a Rozenblit lançou Velhos Carnavais do Recife (LP 40 178), com orquestra e coro sob a direção de Nelson Ferreira. No ano seguinte, no rastro do sucesso dos dois primeiros, foram lançados Carnaval começa com C, de Capiba, e O que faltou e você pediu, de Nelson Ferreira, também gravados ao vivo nos estúdios da Rozenblit por Claudionor Germano e orquestra sob a direção do próprio Nelson Ferreira.

Em 1973,  foram relançados com nova apresentação três LPs de Capiba:  25 anos de frevo( LP 60044); Carnaval começa com C (LP 60106) e Frevo alegria da gente (LP 60060). De   Nelson Ferreira vieram a ser lançados : Meio século de frevo-canção ( LP 60042); Meio século de frevo-de-rua (LP 60041); Meio século de frevo-de-bloco (LP 60040); Meio século de valsas (LP 60043), permanecendo em catálogo uma série de antologias do carnaval pernambucano, como os cinco volumes do Baile da Saudade, com Claudionor Germano e orquestra de Nelson Ferreira (LP 90005 e LP 90007) e Expedito Baracho e orquestra de Clóvis Pereira ( LP 90013 e LP 90016); Carnavalença – Carnaval dos Irmãos Valença, gravado por Expedito Baracho e orquestra de Nelson Ferreira (LP  90010) ; O Frevo Vivo de Levino Ferreira, gravado pela orquestra de José Menezes  (LP 90008); Olinda Carnaval I e II, em  1979 e 1982 ( LP 20.000 e LP 20018); Grandes Frevos de Bloco ( LP 60030); Sua Exa. o frevo de rua, gravado pela Banda Municipal do Recife (LP 60059); Viva o Frevo, antes lançado com o título Frevo na gafieira (LP 40076/1959), tendo Martins do Pandeiro como intérprete, com lançamentos consecutivos em 1973 e 1979;  João Santiago e os 50 anos do Bloco Batutas de São José, com orquestra e coro sob a direção do próprio João Santiago dos Reis em 1983 (LP 90021), Carnaval do Nordeste volumes I e II , gravados respectivamente pelas orquestras de Guedes Peixoto e Ademir Araújo, sob o patrocínio da Sudene (LP 90018 e LP 20021); Capiba – 86 anos, com Claudionor Germano e orquestra de Clóvis Pereira em 1990 (LP 804083).
Alguns desses lançamentos foram transformados, pela Polidisc em fitas cassetes  e, mais recentemente, em  compact-laser (1994), continuando o Capiba – 25 anos de frevo como o campeão de vendas ainda em nossos dias.
*José Rozenblit, um dos irmãos fundadores da Mocambo

Com o aparecimento de uma fábrica de discos no Recife, as gravadoras do Sul, RCA Victor, Copacabana, Odeon, Colúmbia, Philips, entre outras, continuaram com os lançamentos das músicas inéditas feitas para o carnaval do Recife, em 78 rotações por minuto e long-plays, até 1982, quando o interesse ficou restrito à reedição de antigos sucessos do carnaval brasileiro e aos sambas-enredo da Liga de Escolas de Samba do Rio de Janeiro, contribuindo assim para o quase desaparecimento da marchinha carioca nos festejos carnavalescos. 
Dentre outros lançamentos discográficos dos anos cinqüenta, vale registrar o aparecimento do 78 R.P.M. com o maior sucesso carnavalesco de Luiz Bandeira, É de fazer chorar, gravado por Carmélia Alves, juntamente com outro sucesso de Capiba, Nem que chova canivete, lançado pela Copacabana no carnaval de 1957 sob o nº 5699, matriz 1725.
No âmbitos dos long-plays, destaque especial para Carnaval com os Irmãos Valença, Colúmbia nº 40010, matriz XMB 394; Antologia do Frevo, com orquestra de José Menezes e coro de Joab, Philips nº 6349.314, matriz 6349.314, produzido por Toinho Alves (Quinteto Violado) em 1976 com sucessivas regravações; Baile da Saudade, com orquestra de José Menezes e coro, Bandeirantes nº BR 73000, em 1980; Frevança – II Encontro Nacional do Frevo e do Maracatu, gravado ao vivo no Teatro do Parque (Recife) em 19 de setembro de 1980, lançado pela RGE nº 306.3134; os dois primeiros discos da série O Bom do Carnaval, com o cantor Claudionor Germano, pela RCA nº 1070317 e nº 1070411, em 1980 e 1982.
Frevos inéditos, em faixas independentes, no entanto,  continuaram a  figurar nos discos de Alceu Valença, Moraes Moreira, Quinteto Violado, Caetano Veloso, Nando Cordel, Carlos Fernando (Asas da América), Maria Betânia, Geraldo Azevedo, Chico Buarque de Holanda, Gal Costa, Beth Carvalho, Nara Leão, Banda de Pau e Cordas, Conjunto Dominó, dentre outros, não faltando também os frevos instrumentais interpretados por Sivuca, Hermeto Pascoal, Ed Maciel, Dominguinhos, Severino Araújo, Osvaldinho, Renato Borguette, Canhoto da Paraíba e o Conjunto de Cordas Dedilhadas, só para citar esses.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Aniversário do Lalá - 109 aninhos...

Neste último dia 10 passado, comemoraria-se o aniversário de um dos maiores compositores que o Brasil já teve - Lamartine de Azeredo Babo - o nosso Lalá, magricelo de vozinha fina, que sempre fazia ponta nas músicas gravadas nos anos 30, em especial em suas composições. Dá-se o destaque na marcha carnavalesca "Grau Dez", com Francisco Alves para o carnaval de 1935. Além de compositor, era produtor, revistógrafo, humorista e radialista.



*Lamartine Babo, o Lalá (1904-1963)

Seus trocadilhos também o fizeram famoso e os casos em que envolviam sua aparência sempre eram hilários. Aconteceu, um dos casos mais pitorescos, nos correios:  Lalá foi enviar um telegrama, o telegrafista bateu então o lápis na mesa em morse para seu colega: "Magro, feio e de voz fina". Lalá tirou o seu lápis e bateu: "Magro, feio, de voz fina e ex-telegrafista".

RESUMO BIOGRÁFICO


1915
Foi matriculado no Colégio São Bento, onde cursou o ginásio. Ainda na época do São Bento, compôs um foxtrote Pindorama, um desafio de fazer música usando apenas as notas sol, dó, mi. Por essa época, venceu concurso escolar com a poesia "O frade que pedia esmola".

1917
Fez sua primeira valsa Torturas de amor, em homenagem a seu pai que faleceria neste mesmo ano.

1919
Compôs a Ave-Maria, feita exclusivamente para seu casamento, o que nunca se realizou, pois Lamartine casou-se, posteriormente, apenas em cerimônia civil, portanto não solene, com Maria José Babo, com quem não teve filhos. Fez ainda outras músicas religiosas, inclusive um Hino do Jubileu episcopal. Concluído o ginásio, ingressou no Colégio Pedro II, onde se bacharelou em letras.

1920
Desejou cursar a Escola Politécnica, mas foi impedido pelas circunstâncias - dificuldades econômicas pelas quais sua família passava. Foi então obrigado a empregar-se como office-boy da Light, o que lhe permitia vez por outra freqüentar as torrinhas do Teatro Municipal, do Teatro Lírico e do São Pedro de Alcântara (atual Teatro João Caetano). Neste mesmo ano, ainda sem formação técnica musical, compôs "Cibele", sua primeira opereta. A esta seguiram-se "Viva o amor" iniciada em 1926 e concluída em 1940, onde estava incluída a valsa Eu sonhei que tu estavas tão linda (parceria com Francisco Mattoso) e Lola, que no entanto não foram encenadas.

1922
Colaborou com o teatro de revista para o qual compôs Agüenta seu Filipe.

1923
Suas qualidades de bom humor e facilidade de inventar piadas lhe transformaram em colaborador da revista "Dom Quixote", que, dirigida por Bastos Tigre, era uma publicação especializada em humorismo, sátiras e críticas aos costumes da época.

1924
Passou a escrever em "Paratodos" e "Shimmy", usando os pseudônimos de Frei Caneca, Poeta Cinzento, T. Mixto, Janeiro Ramos, entre outros. Ainda em 1924, desligou-se da Light, empregando-se na Companhia Internacional de Seguros.

Sua amizade com Eduardo Souto, compositor e proprietário da Casa Carlos Gomes que financiava a saída de blocos para exibições na Festa da Penha e nas batalhas de confete que antecediam o carnaval, o levou a sair pela primeira vez num desses blocos o "Tatu subiu no pau", cantando a marchinha "Não sei dizê", de Eduardo Souto.

1925
Começou a compor para os ranchos da época dentre os quais Recreio das Flores, Africanos, Jardim dos Amores e Ameno Resedá, conquistando algum sucesso com a marchinha "Foi você". Por essa mesma época, tornou-se assíduo colaborador do teatro de revista. Compôs músicas para "Prestes a chegar", "É da pontinha", "Paulista de Macaé" e "Vai haver o diabo". Paralelamente, escrevia suas próprias peças como "Pequeno polegar" e "Este mundo vai mal". No ano seguinte, estreou em São Paulo com a peça "Na penumbra", feita em parceria com De Chocolat e montada pela Companhia Negra de Revista, espetáculo que contava com a participação de Pixinguinha.

1926
O jornal Estado de São Paulo, em 12 de novembro de 1926, publicava que "o notável flautista Pixinguinha é simplesmente extraordinário". Durante a curta temporada, Lamartine intermediou o encontro de Pixinguinha com o musicólogo Mário de Andrade que estava na época coletando material para a feitura de um livro que teria fundamental importância na carreira do compositor: "Macunaíma o herói sem nenhum caráter". O resultado deste encontro pode ser apreciado no Capítulo VII da obra que trata da macumba.

1927
Passou para o bloco de Luís Sampaio Nunes, conhecido por Careca, compositor de sucessos carnavalescos e vencedor dos carnavais de 1920, 1922 e 1924. Como revistógrafo e compositor, fez sucesso com a revista -burleta "Os calças-largas", de Freire Júnior (novembro de 1927), tendo a marcha - título da peça feita em parceria com Gonçalves de Oliveira - sido gravada na Odeon pelo barítono Frederico Rocha para o carnaval de 1928, sua primeira composição levada ao disco. Neste mesmo ano, musicou a revista "Ouro à beça", com Inácio Stábile e Henrique Vogeler dividindo a autoria do texto com Djalma Nunes e Jerônimo Castilho.

1928
Para ajudar no orçamento, foi professor de dança nos clubes Tuna Comercial e Ginástico Português. Escreveu a burleta "Este mundo vai mal", que obteve grande sucesso e colaborou na revista "Vai haver o diabo", que estreou em novembro do mesmo ano.

1929
Iniciou sua carreira no rádio, na Educadora, onde cantava com sua voz de falsete acompanhado pelo piano de Ary Barroso, contava piadas e fazia sketches.

1930
Em pouco tempo, teve seu próprio programa, "Horas Lamartinescas", onde se apresentavam entre outros Noel Rosa e Marília Batista. Neste mesmo ano, venceu o concurso de músicas carnavalescas promovido pela revista O Cruzeiro com a marchinha "Bota o feijão no fogo".

1931
Ganhou o concurso de carnaval da Casa Edison com "Bonde errado" e fez sucesso com "Lua cor de prata" e "Minha cabrocha" e "O barbudo foi-se". É deste mesmo ano a letra que fez para a composição de Ary Barroso "Na grota funda". Na verdade, Ary Barroso havia musicado versos de J. Carlos. Lamartine gostou da melodia mas achou que esta merecia versos seus. E assim, com a aprovação do parceiro melodista, nasceu o samba-canção "No rancho fundo", que foi lançado ainda em 1931 por Elisinha Coelho. Os dois parceiros voltariam a compor juntos em "Na virada da montanha" e "Grau dez". No ano seguinte, Lamartine reinou no carnaval. Um dos sambas mais divulgados foi o seu "Só dando com uma pedra nela", gravado por Mário Reis. Entre as mais cantadas, estava a marchinha "A.E.I.O.U", feita em parceria com Noel Rosa.

1932
Foi finalmente o ano de "O teu cabelo não nega", verdadeiro hino do carnaval carioca. Além de um grande êxito, a composição foi também um grande problema de direito autoral, por ter sido uma adaptação da marcha "Morena", composta pelos Irmãos Valença, pernambucanos que reclamaram a autoria e que passaram então a assinar a composição ao lado de Lamartine. A marcha foi gravada pelo cantor Castro Barbosa. Curiosamente, segundo relato de Jonjoca (com quem Castro formava uma dupla), "O teu cabelo não nega" lhes foi mostrada por Lamartine em um encontro casual na Cinelândia. A dupla adorou a música e Lamartine lhes disse "é de vocês, podem gravá-la". Dias depois, como iam também gravar "Bandonô", de autoria de Jonjoca, este teve a seguinte (e infeliz) idéia : " Ô Castro, vamos gravar essas músicas individualmente. Voce fica com uma e eu com a outra. Quanto à escolha, decidimos num cara ou coroa. Deu cara, e eu fiquei com 'Bandonô.' "

1933
Lamartine fez sucesso com "Chegou a hora da fogueira", gravada inicialmente por Carmen Miranda e Mário Reis com arranjo de Pixinguinha, "Linda Morena", "Moleque indigesto", "A tua vida é um segredo", "Aí, hein?" e "Boa bola", as duas últimas parcerias com Paulo Valença.

1934
Compôs "Uma andorinha não faz verão", parceria com João de Barro, que se tornou sucesso na voz de Mário Reis e a marchinha "Ride palhaço" inspirada em motivo da ópera I Pagliacci de Ruggiero Leoncavallo (1858-1919).

1935
Mais uma vez venceu o carnaval com "Grau dez" (nota que os compositores deram à morena) parceria com Ary Barroso e fez sucesso com "Rasguei minha fantasia" .

1936
Destacou-se com a "Marchinha do grande galo", uma parceria com Paulo Barbosa. Ainda neste ano, participou do filme "Alô,alô, Carnaval", dirigido por Wallace Downey, onde cantava com Almirante a marchinha "As armas e os barões assinalados".

1937
Suas composições carnavalescas tornaram-se eventuais passando então a fazer sucesso com sambas-canções. O destaque deste ano vai para "Serra da boa esperança", composição na qual Lamartine mostra a excelência de sua arte, onde letrista e compositor se igualam em bom gosto e artesanato. Ainda em 1937 transferiu-se para a Rádio Nacional onde produziu o "Clube dos fantasmas" e a série "Vida pitoresca e musical dos compositores da nossa música popular".

1939
Uma composição carnavalesca, o "Hino do carnaval brasileiro", tem a pretensão de ser o hino oficial do carnaval, o que não acontece, até porque "O teu cabelo não nega" já havia sido consagrada como tal, fato confirmado pelas décadas que se seguiram. Neste mesmo ano, surgiram dois sambas: "Cessa tudo" (com Celso Machado) interpretado por Sílvio Caldas e "Voltei a cantar", canção do musical "Joujoux e balangandãs", que marcou o retorno ao disco do cantor Mário Reis. Após ausência das gravações por um período de três anos o cantor voltou ao disco registrando também "Joujoux e balangandãs", marcha de Lamartine Babo, grande sucesso do espetáculo beneficente de mesmo nome realizado no Rio de Janeiro no ano de 1939, patrocinado pela então primeira dama, D. Darcy Vargas. A composição mostra um diálogo musical entre um brasileiro e uma francesa, vividos no palco e no disco por Mário Reis e Mariah (pseudônimo da senhora da alta sociedade da época, Maria Clara Correia de Araújo). Dois anos mais tarde, Lamartine compôs a valsa "Eu sonhei que tu estavas tão linda", que pretendia incluir numa opereta inacabada intitulada "Viva o amor". A melodia da valsa é de Francisco Mattoso.

1941
A valsa foi gravada por Francisco Alves. Em suas atividades como radialista, foi exclusivo da Rádio Mayrink Veiga durante os anos de 1933 a 1937, tendo produzido os programas "Canção do dia", em que apresentava uma música inédita por programa, e "Clube da meia-noite".

1942
Criou o programa "Trem da alegria", que se tornaria um dos mais famosos do Brasil tendo sido apresentado em diversas emissoras de rádio. O programa contava com a participação do "Trio de osso", integrado por Héber de Bôscoli, Iara Sales e Lamartine, e seguiu no ar até 1956, ano de falecimento de Héber de Bôscoli . Lamartine, a partir daí, abandonou o rádio, passando a se dedicar à direção da UBC (União Brasileira de Compositores). Voltaria poucos anos depois ao rádio, na Roquette Pinto, emissora oficial do então Estado da Guanabara. Além de produzir programas para a televisão, foi produtor da Copacabana Discos e publicou livros humorísticos e alguns versos. Gravou dois LPs na Sinter.




*Os dois LPs prensados pela Sinter nos anos 50 do Lalá

1958
Compôs a marcha-rancho "Os rouxinóis", lançada na revista "Bom mesmo é mulher", a pedido do Rancho Rouxinóis da Ilha de Paquetá. A música obteve sucesso e seria uma das mais executadas naquele carnaval. Encerrou sua carreira de compositor com "Ressureição dos velhos carnavais" (1961) e "Seja lá o que Deus quiser" (1963).

1963
Carlos Machado produziu na boate Golden Room do Copacabana Palace o show "O teu cabelo não nega", baseado na vida de Lamartine. Lalá, como era conhecido, assistiu aos ensaios mas não chegou a ver a montagem do espetáculo. Faleceu dias antes da estréia vitimado por um ataque cardíaco.

Fica aqui, nossa singela homenagem ao Lalá, em vésperas do carnaval, festa que amou como ninguém.

*Créditos: 
                 Collector's.com
                 Fotos retiradas da internet